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Tenho um conhecido, médico e músico nas horas vagas, por apelido "Melhoral". Qualquer problema do paciente, de angústia a infarto, melhoral.
O Melhoral do economista Raul Velloso é o aumento do superávit fiscal.
Nesses anos todos, o país acumulou superávits primários fortíssimos, cortando recursos de investimentos, saúde, educação para servir os juros – altíssimos.
Velloso jamais deblaterou contra os juros. Em uma apresentação sobre as contas públicas, no Conselho de Economia da FIESP, falou de Previdência, Bolsa Família, funcionalismo. Nenhuma palavra sobre juros. Indaguei a razão. Disse simplesmente que não fazia parte do escopo do trabalho que preparara.
Quando estourou a crise, sem discurso, saiu a criticar o aumento de gastos do governos e a propor mais rigor fiscal - em plena crise, propondo políticas pró-cíclicas!
Agora, no Estadão de hoje, propõe um "plano de investimentos",
Falta um plano de investimentos
(…) Foram três as principais vertentes desses choques favoráveis: forte crescimento da demanda mundial por nossos principais produtos de exportação, forte subida dos preços dessas exportações e inundação do País por capitais externos. Diante disso a taxa de câmbio caiu, barateando as importações (especialmente de máquinas e equipamentos), a produção interna aumentou significativamente, as reservas internacionais deram um salto inédito, enquanto as empresas, apoiadas pelo expressivo ingresso de recursos externos, podiam financiar seus crescentes investimentos em condições bem mais favoráveis. Era uma reedição do nosso velho conhecido modelo de empuxo econômico externo que tantas vezes esteve presente no passado e que muitos esperavam que agora durasse para sempre.
Muitos, quem? Ele, Raul Velloso, e outros muitos.
As receitas públicas cresceram acima do PIB, viabilizando maiores superávits fiscais e reduzindo a razão dívida-PIB sistematicamente, mesmo com os gastos correntes crescendo além da conta. Paralelamente, a dívida externa pública denominada em dólares, líquida das reservas internacionais, se transformava em crédito externo líquido, um milagre.
Ou seja, o lado fiscal funcionou a contento.
(…) Estimular o consumo interno pela via fiscal, como se está fazendo, é pouco para criar essa motivação. Os juros vão continuar caindo, mas isso também parece insuficiente.
É pouco? Meses atrás ele condenava vigorosamente qualquer aumento de gastos públicos ou redução de juros. Agora, diz que foram insuficientes.
Abre-se uma grande oportunidade para repensarmos tudo isso. Apesar da maior queda do índice de produção industrial desde o início dos anos 90 (que demonstra a forte intensidade do impacto inicial da crise no Brasil), temos a vantagem de não precisar fazer, como os países desenvolvidos, grandes ajustes no sistema financeiro e nas poupanças individuais. Nem enfrentar problemas de solvência pública ou de balanço de pagamentos com o exterior, como fazíamos há bem pouco tempo, ou como vários países emergentes estão enfrentando agora. Falta, sem dúvida, controlar os gastos públicos correntes. Mas se não tivéssemos avançado o quanto avançamos, aí, sim, estaríamos mal.
Falta o quê, sem os principais indicadores de solvência estão sob controle.
Na verdade, é preciso investir pesado (setor privado especialmente) para o País voltar a crescer a 4,5% ao ano, ou um pouco mais. Sem as mesmas perspectivas que havia nos últimos anos, os empresários estarão reticentes, até que novas fagulhas reacendam o fogo do novo ciclo de crescimento econômico. Cabe necessariamente ao setor público como um todo (União, Estados, municípios e empresas estatais) liderar o processo, pois só ele tem condições de preencher a lacuna existente, ainda que o momento político não seja dos mais apropriados.
A condições essencial, portanto, é o investimento público – que puxa o privado. Justamente o contrário do que ele dizia pouquíssimo tempo atrás.
O instrumento básico que precisa ser apresentado à sociedade é um verdadeiro plano de expansão do setor de infraestrutura, especialmente de transportes e energia, além de outras indústrias básicas. Para esse fim, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é apenas um ponto de partida. É preciso algo bem mais articulado, com diagnóstico básico e proposta de solução.
Nesses anos todos, qual a proposta do Raul Velloso para esse plano articulado, se foi um dos pilares do discurso único de que bastaria a severidade fiscal para o restante vir por osmose?
Dadas as novas metas de crescimento econômico, quanto é preciso investir nesses setores? De que forma? Quais as participações dos setores público e privado? Do financiamento público e do privado? É algo na linha do que já se fez no passado (2º Plano Nacional de Desenvolvimento), embora em condições completamente diferentes.
Fantástico! O homem que reduzia toda a ação de governo ao mero ajuste fiscal e política monetária restritiva, de repente vira um planejador desenvolvimentista.
(…) Resta a decepção com a falta do dever de casa que deveria ter sido feito nos anos de bonança. Deveríamos ter praticado política fiscal anticíclica, ou seja, economizado mais recursos para poder usá-los rapidamente agora, e preparado um verdadeiro banco de projetos e ações relevantes para pôr em prática rapidamente em momentos críticos como o atual.
No mesmo dia em que o jornal anuncia investimentos de R$ 500 bi, fundamentalmente da área pública, e que os gastos públicos seguram a peteca da crise, Velloso volta ao seu mantra. Poderia ser melhor. Hipócrita! No início da crise era o sujeito que gritava contra o aumento dos gastos públicos e propunha mais aperto fiscal.
*Raul Velloso é consultor econômico
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